Entender como o cérebro funciona e como ele afeta o comportamento pode ajudá-lo a tomar decisões melhores.

Imagine a seguinte cena: Seu coração está disparado enquanto você segura sua filha… Esse carro veio do nada! 

Você foi capaz de agarrá-la com a sua bicicleta antes que o carro passasse.

Pensando bem agora, você se pergunta… Como eu cheguei lá tão rápido? E como fui capaz de puxá-la sem nenhum esforço?

Nesse caso, eu agradeceria à sua amígdala! Você não precisa ser um cientista para entender o cérebro. Mesmo uma pequena informação pode ajudá-la a se sentir mais fortalecida e no controle da próxima vez que seu filho sofrer um colapso ou você sentir que vai perder a calma.

FATOS CEREBRAIS PARA PAIS

Amígdala:  é a parte mais profunda e antiga do cérebro humano e que foi pouco modificada pela evolução. Ela é basicamente igual em todos os vertebrados – regula funções básicas relacionadas à sobrevivência, como fome, respiração e digestão.

Esta é a parte mais primitiva do seu cérebro. Eu a chamo de “alarme” porque sua função é detectar o perigo e te ajudar a se preparar para reagir em uma emergência. Esta é a parte do cérebro que está ativa durante a explosão de grandes sentimentos como raiva, estresse e ansiedade.

O lado bom: quando a amígdala soa o alarme, seu corpo reage: por exemplo, ele enviará uma onda de adrenalina permitindo que você corra rapidamente quando seu filho estiver engatinhando em direção ao perigo em uma rua movimentada. É ótimo para mantê-lo vivo e seguro em condições ameaçadoras.

O que não é tão bom: a amígdala nem sempre é boa em distinguir ameaças de uma situação segura. Em crianças pequenas, a amígdala pode reagir de forma exagerada. 

Córtex pré-frontal: Uma das áreas que não nascem prontas é a parte superior da massa cinzenta – o neocórtex. Essa região, a mais recente a se desenvolver do ponto de vista evolutivo, é responsável por capacidades como reflexão, planejamento, imaginação, pensamento analítico e solução de problemas, e corresponde a 76% do cérebro.  Ela só atinge sua plena maturidade por volta dos 25 anos de idade. Como é uma das últimas partes do cérebro a se desenvolver, ela permanece em constante construção durante os primeiros anos da vida.

O bom: O desenvolvimento do córtex pré-frontal é lento e à medida que seu filho amadurece você pode ajudá-lo a tomar boas decisões, escolhendo o caminho certo.

O que não é tão bom: quando a amígdala percebe uma ameaça, tudo o que importa é a sobrevivência. Então, o cérebro desliga esse lado racional. Isso significa que, no calor do momento, seu filho não é capaz de pensar, processar ou fazer uma escolha racional e mais adequada. Nessas horas você precisa ter calma para aprender… em outras palavras, você precisa desligar o alarme da amígdala. 

Sistema Nervoso Autônomo: Em um instante, o cérebro pode enviar sinais para o resto do corpo. Quando ameaçado, ele envolve o Sistema Nervoso Simpático ou autônomo (a resposta de lutar ou fugir), aumentando sua frequência cardíaca, dilatando as pupilas e interrompendo a digestão. Quando a ameaça passa, aí sim o sistema nervoso parassimpático entra em ação, permitindo que seu corpo descanse, faça digestão e respire normalmente.

O bom: esses sistemas são projetados para trabalhar juntos – você fica nervoso, estressado e depois, relaxa. Não devemos permanecer em um estado de estresse constante (lutar ou fugir). Quando você ou seu filho aprendem a reconhecer os sinais de estresse, podem praticar maneiras de voltar à calma.

O que não é tão bom: muitos comportamentos vêm de um cérebro reagindo ao sinal de “alarme” da amígdala. Uma vez que o corpo está pronto para lutar ou fugir pela sobrevivência, pode haver um aumento nos comportamentos agressivos como bater, arranhar, gritar e morder. Você também pode observar comportamentos evitativos, como se esconder e fugir. 

Como o sistema nervoso autônomo afeta grande parte do corpo, dores de estômago, dores de cabeça, tonturas, batimento cardíaco acelerado, formigamento nos dedos ou músculos tensos podem ser, na verdade, sinais de que seu corpo está em um estado de estresse. Estar constantemente nesse estado é muito prejudicial à sua saúde.

Neuroplasticidade: Isso significa que seu cérebro é capaz de aprender coisas novas através da prática! Coisas que você faz repetidamente criam caminhos em seu cérebro. Com o tempo, o cérebro não precisa usar tanta energia para concluir a tarefa porque o caminho já foi feito. 

O bom: você pode moldar o cérebro do seu filho! Por exemplo, quando você fornece uma resposta calma e confiante no meio de um colapso, isso cria um caminho: Grandes sentimentos não são para ameaças! Vou me sentir calmo de novo! Você também pode mudar os caminhos do seu cérebro, criando novos hábitos saudáveis.

O que não é tão bom: leva tempo para mudar ou introduzir novos caminhos! Mas nunca é tarde para aprender e sempre somos capazes de adquirir novas habilidades, em qualquer época, em qualquer idade.

Neurônios-espelho: os neurônios em nossos cérebros são programados para imitar as emoções e comportamentos que observamos. Isso significa que, quando seu filho está rindo, você pode começar a rir também. Quando seu filho fica bravo, enraivado, você também pode começar a se sentir mal-humorado.

O bom: os neurônios-espelho podem nos ajudar a aprender a ter empatia com os grandes sentimentos e desafios de nossos filhos. Além disso, quando respondemos de maneira calma – seja com nossas expressões faciais, linguagem corporal ou nossas palavras – isso dá a eles a oportunidade de aprender por meio de nossas reações. Aliás, é assim que as crianças aprendem, imitando comportamentos dos adultos.

O que não é tão bom: esse é um dos motivos pelos quais é difícil manter a calma quando seu filho está chateado. Vê-los com raiva pode fazer com que seu cérebro fique com raiva também.  

Enquanto neurocientista, eu coloco ênfase na criação de soluções que levam em consideração o desenvolvimento e os processos cerebrais das crianças.

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