A ciência da birra

menino chorando
Artigo Científico

A ciência da birra

Por que as crianças reagem de forma explosiva quando ouvem “não”

Embora isso possa tornar a parentalidade mais desafiadora, é bom saber que as birras, na verdade, servem a um propósito evolutivo. E acontecem em todas as casas, fiquem tranquilos. A birra dura, em média, cerca de três minutos. Tão rapidamente quanto uma criança pode escorregar na raiva e tristeza, ela pode também escapar na mesma velocidade. Seu lobo pré-frontal imaturo lhe permite seguir em frente sem ficar detida na mágoa.

Muitas vezes os pais veem essas explosões emocionais como eventos muito preocupantes, achando-as desafiadoras e exigentes e não percebem que esses comportamentos não são apenas apropriados ao desenvolvimento, mas também essenciais para o crescimento.
Então, sim, as birras são eventos normais no processo de amadurecimento das crianças.

Ao nascerem, os bebês têm bilhões de células cerebrais (neurônios), mas não há muitas conexões (sinapses) entre as células cerebrais porque essa rede de conexões é formada por experiências de vida. As birras são algumas das experiências de vida mais cruciais na escultura do cérebro.

Vamos entender a parte neurocientífica…

Saiba que a explicação dos ataques de birra está no desenvolvimento incompleto de nosso cérebro quando nascemos. É a mesma razão pela qual os filhotes humanos dependem tanto dos pais durante a infância e a adolescência. Então, no seu processo de amadurecimento, é normal a fiação dar pequenos “curtos circuitos”.

Uma das áreas que não nasce pronta é a parte superior da massa cinzenta – o neocórtex. Essa região, a mais recente a se desenvolver do ponto de vista evolutivo, é responsável por capacidades analíticas e de raciocínio lógico, tais como encontrar soluções e resolver problemas.

As crianças nascem com muitas áreas sem a “camada de gordura” (bainha de mielina) que reveste os axônios e que permitem o adequado funcionamento destes, pois os axônios são responsáveis pela transmissão dos sinais cerebrais entre as células nervosas e essa transmissão não ocorre corretamente sem a camada protetora da bainha de mielina.

É como se você comprasse um lustre e ele viesse com todas as lâmpadas, mas faltassem alguns fios e interruptores que permitem que elas acendam. Mas você não precisa ficar tão preocupado, pois, por volta dos seis anos de idade, esses fios estarão no lugar e as luzes podem acender. Vão faltar os interruptores, mas aos poucos, eles vão sendo colocados nos locais certos e você pode regular melhor esse “acender e apagar” das luzes cerebrais.

Como a criança ainda não tem essas conexões adequadas, as atividades mais intensas acontecem nas partes inferiores – que surgiram antes na história da evolução do Homo sapiens.

São os locais que os cientistas chamam de área reptiliana, é a parte mais profunda e antiga do cérebro humano, pouco modificada pela evolução.

Enquanto a parte mais primitiva do cérebro já vem bem desenvolvida desde o nascimento, a parte superior – o lado racional, composto pelo neocórtex e pelos lobos frontais (comandantes da nossa capacidade de pensar sobre um fato, de sermos racionais) só vai atingir sua maturidade por volta dos 25 anos de idade.

Quando uma criança está tendo um ataque de birra significa que um de três alarmes – raiva, medo ou temor da separação – foi acionado na parte inferior, mais primitiva, do cérebro infantil. Esse sistema pode deixar a criança insegura, por isso que um bebê chora quando é afastado dos pais. Perceba que quando você grita com uma criança ela chora ainda mais, com mais força e abre um berreiro. Sabe por quê? Porque ela está sentindo que está numa situação de perigo, então fica assustada.

Como a criança ainda não tem desenvolvida a parte superior do cérebro para racionalizar e se acalmar, o resultado é que a criança fica superexcitada, com altos níveis de substâncias químicas associadas ao estresse que inundam o cérebro e o seu corpo.

Então ela precisa de quem para se acalmar? Quem pode ser o comandante nesse momento? Os pais. Por isso é fundamental que você, adulto, que já tem a sua parte racional desenvolvida, mantenha a calma, embora isso também seja difícil para você.

No auge da crise da criança não adianta você tentar ser racional com ela. Abrace a criança se ela aceitar. Use expressões faciais empáticas e um tom de voz carinhoso e bem baixinho. Traduza em palavras o que ela está sentindo e não consegue descrever.

Diga frases como: “Eu entendo que você ficou muito chateado porque seu coleguinha teve que ir embora. É muito chato quando isso acontece”. Ou então: “Eu entendo que você gostaria de ficar brincando, porém o combinado era que esses seriam os últimos dez minutos” – Criança precisa ser lembrada dos acontecimentos, elas ficam muito concentradas quando estão realizando algo, quando estão em plena atividade. Tirar a criança da atividade de forma repentina é um convite para a birra. Crianças precisam de combinados e rotinas para que compreendam essa transição do tempo e que temos momentos diferentes para cada uma das atividades do dia.

Outra estratégia para evitar as birras é tentar ajudar a criança a ter um acesso à parte superior do cérebro, em vez de atiçar a parte inferior, mais reativa e instintiva.  Se acontecer a seguinte cena: você está vendo a criança pegar um enfeite de vidro em cima de mesa. O que você faz? Você rapidamente grita bem alto: “nããããão!”. Isso é uma ameaça, e ela provavelmente vai realizar a ação. Se não for uma situação de iminente perigo, tente falar de uma forma mais branda, mais suave. Faça um convite para que ela brinque em outro lugar e ofereça escolhas para a criança: “você prefere brincar com seus blocos ou prefere desenhar”?

Já sabemos que, graças aos neurônios-espelho, as crianças reproduzem desde cedo as expressões e até as sensações dos pais, pois elas são esponjinhas. Se a criança está tensa, os pais não devem entrar no mesmo circuito reativo. Isso só vai colocar ainda mais lenha na fogueira da birra. O comportamento dos pais é ajustável, por isso é a ferramenta mais poderosa que temos para ajudar crianças pequenas, o modo como você reage é sempre o maior ensinamento.

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Flávia Valadares – Neurocientista Fundadora da Escola PedagogicaMente

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